domingo, 18 de outubro de 2009

Friedrich Nietzsche: “O Anticristo”


Depois de muito tempo, volto a atualizar esse blog. Desculpem-me os leitores pela demora, mas vou tentando atualizar isso com maior freqüência.

Hoje falo através de Nietzsche, ainda na temática do último post, com algumas passagens de uma de suas obras, “O Anticristo”.

“(...) Outrora ele tinha somente seu povo, seu povo ‘eleito’. Nesse meio tempo ele foi, exatamente como seu próprio povo, para o estrangeiro, em andança, desde então nunca mais se sentou quieto: até que afinal estava por toda parte em casa, esse grande cosmopolita – até que ganhou ‘o grande número’ e a metade da terra para seu lado. Mas o deus do ‘grande número’, o democrata entre os deuses, não se tornou, a despeito disso, nenhum orgulhoso deus de todas as esquinas e lugares escuros, de todos os quarteirões insalubres do mundo inteiro!... Seu reino deste mundo é, antes como depois um reino de submundo, um hospital, um reino souterrain, um reino-ghetto... E ele mesmo, tão pálido, tão fraco, tão décadent... Mesmo os mais pálidos dos pálidos ainda se tornaram senhores sobre ele, os senhores metafísicos, os albinos do conceito. (...) Então ele urdiu outra vez o mundo a partir de si – então transfigurou-se em algo cada vez mais ralo e mais pálido, tornou-se ‘ideal’, tornou-se ‘puro espírito’, tornou-se ‘Absoluto’, tornou-se ‘coisa em si’... Degradação de um deus; Deus se tornou ‘coisa em si’.”

“(...) Vê-se o que chegou ao fim com a morte na cruz: um novo esboço, inteiramente original, de movimento de paz budista, de uma efetiva, não meramente prometida, felicidade sobre a terra. Pois esta continua a ser – já o ressaltei – a diferença fundamental entre ambas as religiões da décadence: o budismo não promete, mas cumpre, o cristianismo promete tudo, mas não cumpre nada.”

“(...) A realidade é que aqui a mais consciente vaidade de eleitos faz o jogo da modéstia: colocaram de uma vez por todas a si mesmos, a ‘comunidade’, os ‘bons e justos’, de um lado, do lado da ‘verdade’ – e o resto, ‘ o mundo’, do outro... Essa foi a espécie mais fatal de mania de grandeza que até agora existiu sobre a terra: uns pequenos abortos de carolas e mentirosos começam a reivindicar para si os conceitos ‘Deus’, ‘verdade’, ‘luz’, ‘espírito’, ‘amor’, ‘sabedoria’, ‘vida’, como se fosse sinônimos de si, para com isso delimitar o ‘mundo’ contra si.”

E para finalizar:

“Não é isso que nos destaca, não encontrarmos nenhum deus, nem na história nem na natureza, nem por trás da natureza – mas sim sentirmos aquilo que foi venerado como Deus, não como ‘divino’, mas como digno de lástima, como absurdo, como pernicioso, não somente como erro, mas como crime contra a vida... Negamos Deus como deus...Se nos provassem esse deus dos cristãos, saberíamos ainda menos acreditar nele.”

Abraços e até a próxima.